Nos
últimos posts, falamos sobre composição do chorume, tratamento... Hoje
falaremos do impacto ambiental do chorume, devido a contaminação do solo e
lençóis freáticos que, na teoria, não deveria acontecer nos aterros sanitários,
já que há (é pra haver) mantas impermeabilizantes para evitar a infiltração. Em
algumas situações, a contaminação ocorre em decorrência do tratamento do
chorume, realizado nas estações de tratamento de esgotos, onde, depois de
tratado biologicamente, o percolado é lançado em conjunto com o esgoto tratado
em águas superficiais. Sendo desconhecidas as identidades dos compostos
presentes no chorume, não é possível prever a efetividade desse tratamento de
forma permanente.
Relembrando:
A composição físico-química do chorume
varia, dependendo de fatores como: Condições pluviométricas locais, tempo de
disposição e características do próprio lixo. Pode conter altas concentrações
de metais pesados (Cádmio - Cd, Chumbo - Pb, Cobre - Cu, Cromo - Cr, Manganês -
Mn, Mercúrio - Hg e Zinco - Zn), sólidos suspensos e compostos orgânicos
originados da degradação de substâncias que são metabolizadas, como
carboidratos, proteínas e gorduras. Apresenta substâncias altamente solúveis,
podendo escorrer e alcançar as coleções hídricas superficiais ou infiltrar-se
no solo e atingir as águas subterrâneas, comprometendo sua qualidade e
potenciais uso.
Os metais pesados são essências para o
crescimento de todos os tipos de organismos, desde bactérias até o ser humano,
mas eles são necessários em baixas concentrações, porque em altas
concentrações, podem danificar os sistemas biológicos por apresentarem
características bioacumulativas no organismo, podendo afetar todos os seres-vivos
direta ou indiretamente. Eles são capazes de desencadear
diversas reações químicas e não são metabolizáveis (organismos vivos não podem
degradá-los), o que faz com que permaneçam em caráter cumulativo ao longo da
cadeia alimentar.
ATENÇÃO
Alguns metais pesados participam, em
pequena quantidade, de certas atividades metabólicas, como por exemplo, o
cobalto que participa da produção das hemácias; o cobre, que compõe diversas enzimas e é
essencial para a síntese da hemoglobina; o vanádio, que interfere na atividade da insulina; entre outros. Porém,
se a quantidade desses elementos no corpo exceder os níveis essenciais, eles
passam a ser tóxicos, causando sérios riscos à saúde.
As consequências do acúmulo de alguns
desses metais no organismo serão citadas abaixo:
· INTOXICAÇÃO POR MERCÚRIO.
Ao ser absorvido, o mercúrio é passado ao sangue, oxidado e
forma compostos solúveis, que se combinam com as proteínas sais e álcalis dos
tecidos.
O mercúrio forma ligações covalentes com o enxofre, e quando entra na forma de radicais sulfidrilas, o mercúrio bivalente substitui o hidrogênio para formar mercaptides tipo X-Hg-SR e Hg(SR)2 onde R é proteína e X radical eletronegativo. Os mercuriais orgânicos formam mercaptides do tipo RHg-SR. Os mercuriais interferem no metabolismo e função celular pela sua capacidade de inativar as sulfidrilas das enzimas, deprimindo o mecanismo enzimático celular.
A medida que o mercúrio passa ao sangue, liga-se as proteínas do plasma e nos eritrócitos distribuindo-se pelos tecidos concentrando-se nos rins, fígado e sangue, medula óssea, parede intestinal, parte superior do aparelho respiratório mucosa bucal, glândulas salivares, cérebro, ossos e pulmões. É um tóxico celular geral, provocando desintegração de tecidos com formação de proteínas mercuriais solúveis e por bloqueio dos grupamentos –SH inibição de sistemas enzimáticos fundamentais a oxidação celular. A nível de via digestiva os mercuriais exercem ação cáustica responsáveis pelos transtornos digestivos (forma aguda). No organismo todo, enfim o mercúrio age como veneno protoplasmático.
·
INTOXICAÇÃO POR CÁDMIO
O
cádmio inativa numerosos sistemas enzimáticos,
por ligar-se aos grupos sulfidril das moléculas de proteína. O cádmio
interfere com a absorção de cobre, zinco, ferro e cálcio reduzindo os níveis
desses minerais essenciais no organismo. O zinco e o cádmio são antagônicos.
Nível elevado de cádmio pode agravar a deficiência de zinco. A medida que se
aumenta o aporte de zinco, os efeitos da intoxicação diminuem. O cádmio pode
substituir o zinco como co-fator da carboxilpertidase e alterar a
especificidade da enzima. O selênio protege o organismo da intoxicação pelo
cádmio. Baixos níveis de cobre diminuem a tolerância orgânica ao cádmio.O íon
cálcio protege parcialmente contra o acúmulo de cádmio nos rins e fígado,
portanto, diminuindo a toxicidade. Alguns dos sintomas da intoxicação por cádmio são:
náuseas, vômitos, cólicas abdominais, diarreia, diminuição da temperatura corporal, perda de dentes, dores
articulares, hiperatividade.
·
INTOXICAÇÃO
POR CHUMBO
A
principal exposição ao chumbo resulta do consumo alimentar, especialmente da
água. A maioria das intoxicações por este metal é lenta e gradual e ocorre
devido à sua exposição e acumulação. O chumbo presente na água ou em outras
bebidas é mais rapidamente absorvido do que aquele que se encontra presente nos
alimentos. A absorção ocorre originalmente no duodeno por mecanismos ainda
indefinidos, podendo envolver o transporte ativo ou a difusão, tanto do chumbo
ionizado como dos complexos inorgânicos ou orgânicos. Aproximadamente 90% do
chumbo presente no organismo circula acoplado aos glóbulos vermelhos. A
deposição dele nos eritrócitos e tecidos moles é o grande responsável pelos
seus efeitos tóxicos com o tempo é redistribuído e depositado nos ossos (95%),
dentes e cabelo, provavelmente por seguir as rotas metabólicas do cálcio,
ultrapassa ainda, a barreira hematoencefálica, em pequenas concentrações,
acumulando-se predominantemente na massa cinzenta e nos gânglios.
No sistema
nervoso o chumbo pode provocar os seguintes efeitos: (i) morfológicos: quebra
das ligações célula a célula devido a alteração temporal na sua programação,
interferência nas moléculas de adesão das células nervosas e alteração do tempo
de migração das células nervosas;
farmacológicos: interferência na função dos neurotransmissores e
desregulação do metabolismo do cálcio: bloqueio dos canais de cálcio
dependentes de voltagem das membranas; substituição do cálcio na bomba
cálcio/sódio; competição para entrar na mitocôndria. Alterações morfológicas
podem ser encontradas na intoxicação por chumbo: desmielinização; degeneração
axonal; bloqueio pré-sináptico com degeneração das células de Schwann;
distúrbios nos vasos cerebrais e proliferação de células gliais nas massas
cinzenta e branca.
A
intoxicação por chumbo de forma direta ou indireta altera muitos aspectos nas
funções das células ósseas. A retenção e mobilização do chumbo no osso ocorrem
da mesma forma que envolve a regulação do fluxo e refluxo do cálcio, da PTH, da
calcitonina, da vitamina D e de outras hormonas que 28 influenciam o
metabolismo do cálcio. Os efeitos da intoxicação são: tonturas, irritabilidade,
dores de cabeça e perda de memória. A intoxicação aguda caracteriza-se pela
sede intensa, sabor metálico na boca, inflamação gastrointestinal, vómitos e
diarreias.
REFERENCIAS
http://www.medicinageriatrica.com.br/2008/01/14/camdio-intoxicacao/
http://www.areaseg.com/toxicos/mercurio.html
http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/54676/4/127311_0925TCD25.pdf
http://www.infoescola.com/quimica/metais-pesados/
http://www.scielosp.org/pdf/csp/v23n4/20.pdf
GRUPO L
ResponderExcluirMuito interessante! O adjetivo "pesado" é literal, resultado de esses materiais serem mais densos - isto é, seus átomos ficam mais próximos uns dos outros. Para ter uma idéia, 1 centímetro cúbico de um metal considerado leve, como o magnésio, pesa 1,7 grama. Já 1 centímetro cúbico de qualquer metal pesado tem pelo menos 6 gramas. Em contato com o organismo, esses metais acabam atraindo para si dois elementos essenciais do corpo: proteínas e enzimas. Mesmo assim, o organismo também tem necessidade de pequenas quantidades de alguns desses metais. É o caso do cobre, que nos ajuda a absorver vitamina C. Em concentrações altas, porém, os mesmos metais são tóxicos.
GRUPO I
ResponderExcluirÓtimo post. Importante salientar também que não está perfeitamente definida a toxicocinética e a toxicodinâmica destes metais – cádmio, chumbo, mercúrio -, nestes últimos anos muito se tem evoluído nesta matéria. No entanto, ainda existem campos desconhecidos, que exigem da ciência apuradas metodologias e investigações que permitam definir com toda a clareza os ciclos destes metais.
Excelente postagem, muito instrutiva !
ResponderExcluirOutro metal que também pode causar intoxicação e que vem sendo estudado é o alumínio, que chega a ser utilizado no tratamento da água (sulfato de alumínio). Tem sido associada à constipação intestinal, cólicas abdominais, anorexia, náuseas, fadiga, alterações do metabolismo do cálcio (raquitismo), alterações neurológicas com graves danos ao tecido cerebral. Na infância pode causar hiperatividade e distúrbios do aprendizado. Inúmeros estudos consideram que o alumínio tem um papel extremamente importante no agravamento do mal de Alzheimer (demência precoce). O excesso de alumínio interfere com a absorção do selênio e do fósforo. E um aumento no pH pode causar uma maior absorção.
Até a próxima postagem !
GRUPO A
Fonte: PORTAL EDUCAÇÃO - Cursos Online : Mais de 1000 cursos online com certificado
http://www.portaleducacao.com.br/farmacia/artigos/276/intoxicacao-por-aluminio#ixzz3ZDG9dO00
GRUPO J
ResponderExcluirÓtima postagem! É importante ressaltar também, alguns métodos de remoção de metais pesados contaminantes, porém eles são extremamente caros. Como tentativa de viabilizar esses métodos de remoção, vários estudos vêm sendo feitos com o objetivo de se empregar trocadores iônicos naturais, que são economicamente viáveis. Entre esses trocadores iônicos, os aluminossilicatos se destacam, que, além de serem de baixo custo, têm alta disponibilidade. Os aluminossilicatos (que têm como principais representantes as argilas e as zeólitas) são obtidos através da substituição parcial de átomos de silício por alumínio.
Até a próxima postagem!
REFERÊNCIA: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-40422002000700015
ExcluirPostagem muito interessante. O assunto "metais pesados" é de conhecimento geral contudo nesta postagem vocês conseguiram demonstrar que o quão perigoso e desagradável, social e ecologicamente, este assunto é. Sem dúvidas a construção de aterros sanitários é essencial para o correto tratamento do lixo mas não basta apenas construir, é necessário fazê-lo eficientemente, e como vocês disseram no começo da postagem uma manta evita que este tipo de problema ocorra. Gostei muito do tema e da forma que ele foi abordado, seria muito bom se essas informações chegassem à todos, principalmente os gestores, porque é com informações boas e confiáveis que problemas como este são sanados.
ResponderExcluirGrupo H
ResponderExcluirO descarte de materiais eletrônicos que possam conter esses metais deve ser realizado de maneira muito cuidadosa, porém pouca informação é divulgada a respeito. Um exemplo aterrorizante é que uma única pilha contamina o solo por até 50 anos, e são produzidas mais 800 milhões de pilhas comuns por ano só no Brasil. Postos de coletas em supermercados, ONG's, assistências técnicas e até mesmo bancos são cada vez mais comuns, porém a falta de informação da população dos perigos do descarte irregular dessas substâncias ainda é uma barreira a ser vencida.
Ótimo post!
Grupo D
ResponderExcluirÓtimo post! Bastante informativo quanto um problema extremamente silencioso, pois só são tomadas atitudes corretivas quanto aos aterros sanitários quando a população que mora nas áreas próximas apresenta os sintomas. Quando isso acontece, percebe-se que o problema já esta bem agravado. Quanto à composição do chorume formado nos aterros sanitários, de acordo com a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia, esse líquido com cor escura, de odor desagradável e muito poluidor deve ser analisado periodicamente para que haja um controle dos componentes que podem estar poluindo a região. Não basta somente um aterro construído de forma correta, deve haver controle do que pode estar afetando o ambiente. Devem ser realizadas anáises físico-químicas e bacteriologicas do chorume além da análise da concentração de metais pesados como os citados na postagem. Outros exemplos como o bário e ferro podem ser citados.
Ótimo post, galera! Resolvi só complementar essa postagem de vocês com mais algumas informações sobre o cádmio. Quando absorvido, o cádmio é transportado pelos eritrócitos até ao fígado onde é depositado. No fígado, o cádmio se liga a uma proteína de baixo peso molecular formando o complexo cádmio-metalotionina, sendo transportado do fígado para os rins onde, apesar de ser filtrado pelos glomérulos renais, é reabsorvido nos túbulos proximais e depositado nos lisossomos das células dos túbulos proximais. Este complexo presente nos lisossomos é lentamente catabolizado e é mais nefrotóxico que o cádmio sob a forma inorgânica.
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