quinta-feira, 23 de abril de 2015

O tratamento do chorume: tradição x inovação

Na nossa última postagem falamos do processo de formação do chorume e a bioquímica, desta vez, iremos nos deter nos processos de tratamento do chorume, os métodos tradicionais e as novas tecnologias de tratamento, como a transformação do chorume em água. É importante saber que o chorume, se descartado de forma inadequada no solo, pode ocasionar graves danos ao meio ambiente e à saúde pública. Com baixa biodegradabilidade, alta carga de materiais na composição e compostos orgânicos tóxicos, este líquido residual, se não devidamente tratado, é capaz de atingir e contaminar o lençol freático, prejudicando desta forma os cursos de água da região. Com isso, percebe-se que os danos ambientais provocados pelo manejo inconsequente desse efluente alcançam sérias proporções, culminando em um ciclo completo de poluição da água. Vale salientar que a questão do tratamento do chorume não é uma questão apenas ambiental, existe uma norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas que dispões sobre as condições mínimas estabelecidas para a construção de um aterro sanitário, exigindo que o projeto inclua um sistema de coleta, drenagem e tratamento do chorume.
Vários métodos físicos e físico-químicos, incluindo adsorção, precipitação, oxidação, air stripping, evaporação e filtração por membranas, têm sido aplicados para remover carga orgânica e nitrogênio do chorume, proporcionando remoção de sólidos e espumas. Após esse pré-tratamento ocorre o encaminhamento do fluido resultante para a rede de tratamento de esgoto, onde vão ocorrer processos biológicos. Duas das principais etapas são:
Coagulação/Floculação/Sedimentação
O princípio do processo consiste na neutralização das cargas elétricas do material em suspensão, por adição de agentes de floculação (por exemplo, sulfato de alumínio). Após da neutralização das cargas superficiais a mistura e deixada em repouso, o que facilita a aglutinação das partículas por adsorção (Silva, 2002).
Remoção de poluente por arraste com ar (air stripping)
Substâncias voláteis podem ser removidas das águas residuais por volatilização, através de processo físico de arraste com ar. No caso da remoção da amônia presente em grandes quantidades no chorume, é necessário elevar o pH do meio, de modo que favoreça a transformação do íon amônio em amônia livre.

Na rede de tratamento de esgoto, ocorrem os processos biológicos que são generalizados no seguinte trecho:
“Segundo Metcalf e Eddy (2003) os objetivos do tratamento biológico de águas residuais são a remoção de sólidos coloidais não sedimentáveis e estabilização da matéria orgânica e, em muitos casos, a remoção de nutrientes (nitrogênio e fósforo). Esses objetivos são alcançados pela atividade de diversos microrganismos, principalmente bactérias. Um dos mecanismos de ação delas é através da oxidação aeróbia, as bactérias utilizam o oxigênio molecular como aceptor final de elétrons, enquanto que, na oxidação anaeróbia, este papel é exercido por componentes como gás carbônico (CO2), nitratos (NO3- ) e sulfatos (SO42-). ”
Novas tecnologias no tratamento do chorume
Além desses processos tradicionais, as pesquisas na purificação do chorume já evoluíram bastante. Em agosto de 2014, o G1 publicou uma reportagem com o título: “Tecnologias transformam o chorume, resíduo tóxico do lixo, em água limpa”. Segue um trecho da reportagem “ Em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, o chorume recolhido do aterro é bombeado para uma miniestação de tratamento que cabe em um contêiner. Equipamentos de última geração filtram o chorume. Micro membranas só deixam passar as moléculas de água. O resultado do processo é água pura, destilada. O que ocasiona uma economia de R$ 300 mil em apenas dois meses. ”

 


Concluiremos essa postagem com o vídeo da matéria citada acima sobre a transformação do chorume em água pura, esse processo que muita gente jamais imaginaria, já é realidade em alguns aterros sanitários brasileiros.


Referências Bibliográficas

MORAIS, Josmaria Lopes de. ESTUDO DA POTENCIALIDADE DE PROCESSOS OXIDATIVOS AVANÇADOS, ISOLADOS E INTEGRADOS COM PROCESSOS BIOLÓGICOS TRADICIONAIS, PARA TRATAMENTO DE CHORUME DE ATERRO SANITÁRIO. 2005. 207 f. Tese (Doutorado) - Curso de Química, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2005. 


NACIONAL, Jornal. Tecnologias transformam o chorume, resíduo tóxico do lixo, em água limpa. 2014. Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2014/08/tecnologias-transformam-o-chorume-residuo-toxico-do-lixo-em-agua-limpa.html>. Acesso em: 22 abr. 2015.


9 comentários:

  1. Post muito interessante! muito importante estarmos atentos ao processo de produção e tratamento do chorume.
    No tratamento do chorume, além da etapa fisico-química apresentada pelo grupo, há também a etapa biológica, na qual ocorre biodegradação da matéria orgânica através da injeção de ar e adição de fonte de fósforo; nitrificação e desnitrificação da matéria orgânica e a redução da toxicidade. Muito interessante também esse novo tratamento, que transforma chorume em água!
    Até a próxima! :)

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  2. Muito boa a postagem, e ainda completa (e nos tranquiliza) a anterior !
    E é legal a postagem pra acabar com essa fama de monstro que o chorume tem. Como vocês deixaram bem claro, ele pode ser tratado. Infelizmente o Brasil é bem atrasado nesse campo, talvez pelo alto custo do processo, ou só desinteresse por parte dos gestores.
    Algumas cidades já vêm até utilizando o biogás do chorume na produção de energia, talvez assim (tendo um lucro) o tratamento seja difundido. Nesse caso aspectos como a composição, vazão, propriedades químicas em geral são de necessário conhecimento para uma produção elétrica eficiente. No link a seguir, quem se interessar, pode ler mais sobre o assunto: http://www.rbciamb.com.br/images/online/10_artigo_5_artigos102.pdf

    Até a próxima. GRUPO A

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  3. Grupo D
    Que bom saber que existe vários modos de tratar o chorume dos aterros sanitários. Esse ai da filtração por membrana é show, fico até pensando quando vai chegar essa tecnologia aqui em Parnaíba...é até melhor nem pensar, é melhor fechar os olhos para esse problema e fingir que não existe. Que pena que nossos governantes tenham essa visão, e segundo o Jornal o Dia, sua revista eletrônica, “Teresina e Parnaíba são as únicas cidades do Piauí que têm projetos para aterro sanitário até o momento. Segundo a Secretaria das Cidades atualmente no Piauí 83% do lixo da zona urbana é coletado,12,5% é queimado ou aterrado e 3,7% está em terrenos baldios ou logradouros. De acordo com pesquisa realizada pela Secretaria das Cidades, no quesito destinação do lixo a situação dos municípios do Piauí deixa muito a desejar, pois aponta ainda para o fato de não termos um sistema adequado de gestão de resíduos, já que em quase todo o Estado existem apenas lixões em lugar de aterros sanitários, que seria o ambientalmente correto”.
    É para ontem, ter que começar a se preocupar com a destinação dos resíduos sólidos urbanos.
    http://www.proparnaiba.com/redacao/2012/04/23/apenas-duas-cidades-no-piau-t-m-projeto-de-aterro-sanit-rio.html acessado em 26 de abril de 2015.

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  4. GRUPO J
    Ótima postagem pessoal! Sabemos que o tratamento do chorume, apesar de ser muito necessário, é um processo caro para a nossa realidade brasileira. É importante, portanto, procurar alternativas simples e baratas mas que tenham ótima eficiência. E um processo que atende a esses requisitos e que, inclusive, é recomendado para o Brasil (por causa, principalmente, do clima favorável - temperatura e insolação elevadas) é o chamado Sistema Lagoas de Estabilização. Esse sistema se constitui de um processo biológico de tratamento em que a estabilização da matéria orgânica é realizada pela oxidação bacteriológica e/ou redução fotossintética das algas. Ele possui, geralmente, quatro fases principais: uma lagoa de decantação que antecede uma lagoa anaeróbia e três lagoas facultativas e ao final há a possibilidade de instalação de um sistema experimental utilizando plantas e solo como retentores de contaminantes. Por meio de todos os seus processos de tratamento, o Sistema de Lagoas de Estabilização tem satisfatória eficiência na remoção de DBO e de organismos patógenos; além de ter construção, operação e manutenção simples.
    Até a próxima postagem, pessoal!

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    1. Fonte: http://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/ceatec/demanboro/Material10%2805Out%29/Tratamento_Chorume.pdf

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  5. Muito legal e realmente tranquilizadora a postagem de vocês. Além desses tipos de tratamento, temos ainda a fotocatálise heterogênea. Ela tem mostrado uma excelente potencialidade para a rápida degradação de substratos do chorume resistentes aos outros tipos de tratamento.
    A fotocatálise é realizada da seguinte maneira: Para realização do processo fotoquímico utiliza-se um reator fotoquímico cilíndrico, equipado com sistema de refrigeração (empregando água), agitação magnética e sistema de oxigenação. Neste equipamento, a radiação ultravioleta foi proporcionada por lâmpada a vapor de mercúrio de 125 W (sem o bulbo protetor), inserida no interior do reator por meio de um tubo de quartzo. Inicialmente o semicondutor era adicionado ao chorume; a mistura obtida é submetida a processo de agitação com o emprego de um agitador magnético por 20 min e, em seguida irradiada. Oxigênio comercial foi borbulhado durante o processo fotoquímico. Depois o chorume é filtrado em membrana Milipore® e submetido ao controle por espectroscopia UV-Vis, determinações DQO solúvel, DBO e fenóis totais.
    Embora seja um procedimento caro, é passível de pesquisa e reflexões.
    TRATAMENTO DE CHORUME DE ATERRO SANITÁRIO POR FOTOCATÁLISE HETEROGÊNEA INTEGRADA A PROCESSO BIOLÓGICO CONVENCIONAL. Josmaria Lopes de Morais* Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná, Av. Sete de Setembro, 3165, 80230-901 Curitiba - PR Carla Sirtori e Patricio G. Peralta-Zamora Departamento de Química, Universidade Federal do Paraná, CP19081, 81531-990 Curitiba - PR Recebido em 26/8/04; aceito em 20/4/05; publicado na web em 10/8/05

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  6. Grupo H
    É interessante que o impacto produzido pelo chorume sobre o meio ambiente está diretamente relacionado com sua fase de decomposição. O chorume de aterro novo, que recebe águas pluviais é caracterizado por pH ácido e diversos compostos potencialmente tóxicos. Mas com o passar dos anos há uma redução significativa da biodegradabilidade devido a conversão, em gás metano e CO2, de parte dos componentes biodegradáveis.
    Só falta os governantes fazerem a parte que os cabe, porque solução sempre tem!

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  7. GRUPO E
    Postagem importantíssima do ponto de vista da temática dialogada com a saúde pública, já que o chorume é altamente tóxico e poluente. Como falado, o seu tratamento passa por diversas etapas, mas essas etapas podem conter matérias que podem ser reutilizadas na indústria, como é o caso da produção de amônia para fertilizantes, adubos e setor químico a partir do chorume. É uma maneira de capitalizar o tratamento desse chorume, unir o útil ao agradável!

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  8. GRUPO I

    Ótimo post! Vale salientar que operar uma estação de tratamento de chorume ainda é um desafio a ser contornado. Dada a sua elevada carga bioquímica, a presença de substâncias tóxicas e metais pesados, o comprometimento do resultado final é bem maior. O chorume é algo muito complexo, o que torna bastante difícil a determinação de técnicas de tratamento efetivas. Basicamente, as técnicas adotadas com sucesso por um aterro não garante que ao ser aplicado em outro aterro terá o mesmo resultado. Essa dificuldade ocorre porque as identidades dos compostos presentes no chorume são complicadas de prever. Com isso, é impossível saber qual o tratamento é realmente efetivo. Mas, a necessidade de identificar esses compostos vem motivando uma pesquisa científica em nível mundial.

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