domingo, 12 de abril de 2015

O Aterro também chora!

Como já dissemos na postagem anterior, o aterro sanitário é o local para onde são destinados os resíduos provenientes do serviço da coleta de lixo municipal, a decomposição do lixo gera subprodutos como gases e líquidos. Hoje nos deteremos aos processos bioquímicos relacionados ao chorume, a abordagem do gás será realizada posteriormente.

O chorume é um líquido escuro de odor desagradável, produzido pela decomposição físico-química e biológica dos resíduos depositados em um aterro. Carregado pela água de chuva e pela própria umidade contida nos resíduos, o chorume se transforma em uma matriz aquosa de extrema complexidade, apresentando em sua composição altos teores de compostos orgânicos e inorgânicos, nas formas dissolvida e coloidal. 
O chorume, ainda, pode ter seus componentes classificados e segregados em quatro grandes categorias:
(1) Matéria Orgânica Dissolvida (MOD), expressa como Demanda Química de Oxigênio (DQO) ou Carbono Orgânico Total (COT), incluindo CH4, ácidos graxos voláteis (em particular na fase ácida) e muitos compostos recalcitrantes, por exemplo, compostos húmicos e fúlvicos;
(2) Macrocomponentes Inorgânicos: cálcio (Ca), magnésio (Mg), sódio (Na), potássio (K), amônio (NH4+), ferro (Fe), manganês (Mn), cloretos(Cl-), sulfato (SO42-), sulfeto (S2-) e carbonato (CO32-). Metais potencialmente tóxicos: cádmio (Cd), cromo (Cr), cobre (Cu), chumbo (Pb), níquel (Ni) e zinco (Zn).
(3) Compostos Orgânicos Xenobióticos: que incluem uma variedade de hidrocarbonetos halogenados, compostos fenólicos, álcoois, aldeídos, cetonas e ácidos carboxílicos, além de outras substâncias caracteristicamente tóxicas.

(4) Compostos encontrados em menor concentração: boro (B), arsênio (As), selênio (Se), bário (Ba), lítio (Li), mercúrio (Hg) e cobalto (Co).
Análises microbiológicas demonstram a presença de um número significante de bactérias no chorume, sendo mais comuns: bactérias acetogênicas, metanogênicas, e desnitrificantes, além de coliformes (Christensen et al., 2001; Boothe et al., 2001).
Baun e colaboradores (2004) identificaram a presença de compostos orgânicos suspeitos de atuarem como estrógenos ambientais (ftalatos e bisfenol), compostos de ação antioxidante (benzotiazolona) e compostos que atuam como princípios ativos de medicamentos (bensixazol), em um grande número de amostras estudadas. Os estrogênios ambientais são moléculas que atuam no sistema endócrino, afetando o desenvolvimento embrionário, o tecido cerebral e cardiovascular, mesmo quando em concentrações muito baixas.
As substâncias podem oferecer dificuldade a biodegradação em decorrência de diversos fatores, dentre os quais podemos citar:
(1) Estrutura química complexa desprovida de grupos funcionais reativos;
(2) Ação tóxica de compostos químicos sobre os micro-organismos responsáveis pela degradação inativando metabolismo celular dessas espécies;
(3) Interações entre compostos químicos gerando produtos não acessíveis a biodegradação.
Por ter uma grande variedade de compostos poluentes, alguns deles perigosos, é necessário que se faça uma reavaliação dos riscos associados à disposição de resíduos em aterros sanitários, bem como, colocar em discussão a eficiência dos atuais sistemas de tratamento de lixiviado. A próxima publicação abordará os principais tipos de tratamentos utilizados nos aterros sanitários.

Referências Bibliográficas

MORAIS, Josmaria Lopes de. ESTUDO DA POTENCIALIDADE DE PROCESSOS OXIDATIVOS AVANÇADOS, ISOLADOS E INTEGRADOS COM PROCESSOS BIOLÓGICOS TRADICIONAIS, PARA TRATAMENTO DE CHORUME DE ATERRO SANITÁRIO. 2005. 207 f. Tese (Doutorado) - Curso de Química, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2005.

NOLASCO, Marcelo Antunes. Estrogênios ambientais em águas residuárias: analise dos efeitos biológicos, da distribuição dos compostos e desenvolvimento de estratégias de remoção. Disponível em: <http://www.bv.fapesp.br/pt/auxilios/28824/estrogenios-ambientais-em-aguas-residuarias-analise-dos-efeitos-biologicos-da-distribuicao-dos-compo/>. Acesso em: 09 abr. 2015.

OLIVEIRA, Débora Machado de. ANÁLISE DE ASPECTOS AMBIENTAIS DO PROCESSO DE EVAPORAÇÃO DE LIXIVIADOS DE ATERROS SANITÁRIOS. 2011. 185 f. Tese (Doutorado) - Curso de Engenharia Ambiental, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2011.

11 comentários:

  1. GRUPO F

    Postagem muito esclarecedora, eu mesmo não sabia de várias informações que foram dadas e seria muito bom se todos os gestores municipais e secretários de saúde soubessem minimamente essas informações. A politica nacional de resíduos sólidos tentar minimizar os problemas causados pelo mal gerenciamentos dos resíduos, contudo parece que muitas prefeituras não fazem sua parte, e levar este tipo de informação à população e atiça-la a cobrar pelos seus direitos é umas das formas de minimizar os problemas oriundos do chorume.

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  2. Muito importante sua postagem !
    Poucos sabem que o lixo pode formar um líquido composto por tantas substâncias.
    O chorume também é produzido em cemitérios, o necro-chorume. Cerca de 75% dos cemitérios públicos do Brasil têm problemas com a contaminação do subsolo.
    Segundo o geólogo paulista Lezíro Marques Silva, que pesquisa o assunto desde 1970, o cadáver de um adulto, pesando em média 70 quilos, produz cerca de 30 litros de necro-chorume em seu processo de decomposição. Esse líquido é composto por 60% de água, 30% de sais minerais e 10% de substâncias orgânicas, entre as quais algumas bastante tóxicas, como a putrefina e a cadaverina: um meio ideal para a proliferação de substâncias responsáveis pela transmissão de doenças infectocontagiosas, entre elas a hepatite e a poliomielite.
    Obs: estudar vizinho a um cemitério no centro da cidade não deve ser muito indicado, né ? hahaha
    GRUPO A
    http://amelhoragua.com.br/novidades/subsolo-contaminado-com-necro-chorume/

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  3. GRUPO L
    Numa época em que se vive a dicotomia entre uma produção cada dia maior de resíduos urbanos e discussões sobre sustentabilidade e atitudes que promovam preservação ambiental, a abordagem da temática do chorume pelo blog se mostra bem válida. Como ficou bem claro na postagem, o chorume é resultado da decomposição e da dissolução em água da matéria orgânica sendo formado por enzimas expelidas pelas bactérias de decomposição e da água de constituição do próprio lixo. Essa substância tem alto potencial de contaminação porque apresenta baixa biodegradabilidade, alta carga de materiais na composição e compostos orgânicos tóxicos como ficou evidenciado na postagem, devendo ser descartado de forma adequada no solo (o que não ocorre na maioria dos locais, sendo uma triste realidade vivenciada por nós todos os dias), pois caso contrário ocasionará graves danos ao meio ambiente e à saúde pública. Entre esse problemas se destacam a contaminação dos recursos hídricos como lençóis freáticos, rios e córregos. Em virtude disso, os peixes acabam contaminados ou mortos em virtude da oxigenação da água ser afetada (uma vez que o chorume possui uma elevada concentração de Demanda Biológica de Oxigênio-DBO), caso a água seja usada na irrigação agrícola a contaminação pode chegar aos alimentos (frutas, verduras, legumes, etc.). Além disso, esse líquido contaminante possui atratividade para vetores de doenças, contém metais pesados que podem causar sérios danos à saúde humana, contamina o solo com as diversas substâncias tóxicas que contém e pode também contaminar o ar ,pois ainda libera gás carbônico e metano. Assim, é necessário que a norma NBR 8419/1992 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que dispõe sobre as condições mínimas estabelecidas para a construção de um aterro sanitário, exigindo que o projeto inclua um sistema de coleta, drenagem e tratamento de líquidos percolados seja aplicada de forma incisiva. Além disso, é preciso que o chorume seja tratado também nos mais diversos locais onde é potencialmente produzido.

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  4. Grupo H
    A postagem me lembrou de um fato interessante. Em aterros e lixões o chorume é até considerado o vilão, mas em pequena escala seu papel é bem diferente. Em composteiras caseiras, ou onde são dispensados apenas materiais orgânicos (preferencialmente crus e não cítricos), o chorume pode, e deve, ser reaproveitado como biofertilizante. Para isso basta misturar uma parte de chorume com 10 de água, deixar descansar por 24 horas e utilizar nas plantas.

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  5. Bom, o chorume é mesmo algo a se considerar quando se pensa na criação de um aterro sanitário, mas atualmente, existem normas que regulam essa implantação, e uma dessas regras é a implantação de mantas impermeabilizantes que evitem a infiltração de líquidos como o chorume. É necessário também que haja a retirada desse líquido, por sistemas de drenagem eficientes, com posterior tratamento dos efluentes sem que agrida o meio ambiente.
    Ah, o chorume que polui o ambiente pode ser transformado em adubo orgânico e habitat para criação de minhocas :D tem como vantagem a grande concentração de fósforo, um mineral existente em pequena quantidade nos solo, mas que é um importante nutriente para as plantas.
    Fico no aguardo das próximas postagens sobre esse tema tão importante nos dias de hoje :)

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  7. GRUPO I

    Ótimo post. Apesar de ser um tema não tão discutido na sociedade, tal assunto é de extrema importância nos dias atuais, principalmente quando se observa os problemas que o chorume pode causar ao ser humano. Os órgãos públicos devem estar bastante atentos com tal temática visto que se trata da saúde pública. Devem buscar a melhor maneira de assentar os aterros. Na tentativa de evitar a contaminação do lençol freático, poços e córregos nas proximidades do aterro, o mesmo precisa ter uma camada impermeabilizante e o chorume deve ser estocado em reservatórios para posterior tratamento, aumentando com isso os custos operacionais do aterro.
    Abraços!!

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  8. GRUPO J
    Ótima postagem, principalmente por destacar a composição do chorume. Na contemporaneidade, sabe-se que a produção de lixo ocorre de forma exacerbada, porém seu descarte, na maioria das vezes, ocorre de maneira inadequada. Uma informação que merece destaque é a presença de diversos tipos de metais pesados na composição do chorume. Esses metais podem ser caracterizados como bio-acumulativos e com alto potencial de contaminação ambiental, que se estende desde o início da operação de um aterro sanitário até décadas após seu fechamento. É importante, portanto, a realização do monitoramento dos níveis de toxicidade do chorume, por se constituir um importante instrumento de gestão ambiental, visando à manutenção ou à melhoria da qualidade de vida da população.
    Aguardamos as próximas postagens!!!

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  9. GRUPO E

    Interessantíssima, a postagem e de alta relevância em debates de saúde pública. É importante saber que o chorume é de grande risco para a contaminação de lençóis freáticos, constituindo-se um grande problema aqui no Piauí, tomada as grandes proporções do nosso lençol freático. Por esse meio, eles passam a contaminar mananciais de rios, lagos e barragens, que podem ser usadas por captação de água para abastecimento hídrico. Dessa forma, a saúde das pessoas passa a ser afetada por essa contaminação, podendo levar a intoxicação por metais pesados, produtos xenobióticos e outras substâncias citadas no post acima.

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  11. Grupo D
    Postagem esclarecedora... Como vimos o chorume deve ser levado em consideração e tratado para evitar contaminação. O tratamento biológico se insere como a opção mais eficiente e indicada para o processo, O tratamento biológico tem o objetivo de remover a matéria orgânica dissolvida e em suspensão ao transformá-la em sólidos sedimentáveis (flocos biológicos) e gases. Basicamente, o tratamento biológico reproduz os fenômenos que ocorrem na natureza, mas em menor tempo. A partir destas informações, fica evidenciada a grande importância de encaminhar o chorume proveniente dos aterros sanitários para tratamento e a contratação de uma empresa competente para realizar o processo, em conivência com o ambiente e à legislação vigente.

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